Precisamos falar sobre Gordofobia

    Só de escrever essa palavra já vai aparecer um monte de gente dizendo, Ahhhh, mas lá vem a Gorda romantizar a obesidade, é uma questão de saúde, de cuidado, de preocupação da sociedade. Não é preconceito e por aí vai de discursos vazios. Mas será mesmo? Será que existe a mesma preocupação com o consumo excessivo de cigarros ou álcool? Ou será só um discurso fantasiado para vender mais dietas, procedimentos estéticos, treinamentos milagrosos, pílula que seca gordura, e a lista não para pôr aí.  

Ao longo desses muitos anos tentando emagrecer, eu me dei conta de muitas coisas e gostaria de compartilhar um pouco disso com vocês, que talvez ajude, talvez seja só um desabafo de algo preso na garganta. Hahahahahah   

Venho estudando movimento humano desde 2010 quando entrei na graduação em Educação Física na UFRGS, inclusive o tema do meu TCC foi os motivos que levavam os obesos não conseguirem se engajar em programa de treinamento. Levantei vários aspectos na pesquisa, mas a principal era a falta de um professor de Educação Física que enxergasse o indivíduo como um todo. Saísse do discurso é só fechar a boca e treinar, que gordo é preguiçoso, que não se esforça, que não tem determinação e disciplina. E o que percebo é que o discurso não mudou, tanto na educação física como na medicina. Aliás na medicina o preconceito impera. Dito isto vou contar uma pequena história. 

    Em dezembro de 2022 completei 39 anos e resolvi me engajar em um projeto pessoal - Correr a São Silvestre (Prova de corrida de 15km que acontece todo dia 31/12 na Av Paulista) ao completar 40 anos - Treinos bem estruturados, já corria tranquilamente 5km e teria um ano para melhorar o desempenho e conseguir completar a missão até dezembro de 2023. Tudo indo bem com os treinos, trilhas aos finais de semana. Começa uma dor no meu calcanhar, início achei que era uma simples fascite plantar, dá-lhe gelo e alongamento e seguimos. A dor não cede e começa a piorar. A última trilha que consegui realizar foi o Pico da Teta em Balneário Camboriú - SC, tudo dentro dos conformes, mas após volta pra casa, (2h de carro), simplesmente não consigo colocar o pé no chão.  

Busco um médico que avalia como uma lesão no tendão de Aquiles, gelo, imobilização e nada de melhorar. Outra médica, outra avaliação, acabo descobrindo que é um esporão só que já está de um tamanho bem considerável. talvez necessário intervenção cirúrgica. E é aí que entra a Gordofobia, vou consultar com um ortopedista que não olha na minha cara e nem ao menos olha meu Raio X e me diz: Esporão só tem três coisas pra se fazer: Emagrecer, colocar gelo e alongar. saí daquela consulta possessa de raiva. Venho ensaiando esse texto dentro de mim há quase um mês, porque realmente me causa muita revolta e tristeza essa falta de olhar da medicina para o paciente. Se fosse uma profissão mal remunerada, talvez se justificasse, mas médicos nesse país são quase deuses, ninguém questiona sua autoridade, os doutores sem doutorado que andam por aí espalhando suas certezas. Nem tudo tem a ver com o peso. Ouçam seus pacientes, olhem, orientem e saiam desse discurso vazio. Tenho certeza de que não doí e vai melhorar muito a vida dos pacientes e de vocês que realmente vão conseguir ajudar as pessoas.